Parece ter sido escrito hoje!Nas leituras de hoje poderia ser um dos que perseguem os sinais de esperança,andando por nossas ruas,subindo os morros,convivendo com traficantes,no meio do tiroteio e das balas perdidas,caminhando com os habitantes dos lugares de toda pobreza e miséria:A porta do barraco era sem trinco,/mas a lua furando o nosso zinco/salpicava de estrelas nosso chão...(Orestes Barbosa).Não tem mais zinco,mas os telhados são furados por balas perdidas..."A poesia tem comunicação secreta com o sofrimento do homem”(Neruda).Difícil é imaginar o poeta bíblico dentro de um shopping, veloz para gastar as economias reunidas o ano inteiro,cheio de urgências consumistas,respondendo ao marketing insistente da mídia.Mais adequado imaginar o salmista nos caminhos e nas vielas arriscando-se aos tiros trocados com a polícia,nos lugares de toda miséria.
Quem está encantado pelas guirlandas,as lâmpadas piscantes,árvores de natal em verdes artificiais,é convidado a reter-se por um momento e olhar o entorno.Pensar sobre a asfixia das festas inúteis,dos compromissos obrigatórios,das trocas de presentes,e parar para ouvir uma canção bíblica (salmo 146);escutar o tum-tum-tum rítmico,envolvente,fascinante,dos que deviam chorar,mas dançam e cantam incompreensivelmente a esperança.Mas é o que este salmo desperta em nós,ouvindo sua música,enquanto nos deixamos arrebatar: Como vamos cantar / este canto imprevisto / tão distantes do lar / tão no mundo sem Cristo(...) / Como vamos cantar se o irmão se o irmão é explorado, / se lhe fazem calar / se ele é sempre anulado? / A canção do Senhor tem de ser verdadeira, / para ser o louvor na terra brasileira (Jacy Maraschin).
A fé bíblica,com todas as suas implicações,fala neste Advento da luta dos oprimidos e da sua emancipação.Os delírios fundamentalistas apocalípticos,no entanto,chegam ao extremo: é o máximo da loucura: querem suspender a esperança com a cumplicidade dos demônios da pregação medieval da pregação medieval sobre guerras espirituais.Há também que coloque Deus como causa ou como juiz que potencializa o sofrimento humano,condenado pecados e culpas individuais,enquanto ignora pecados estruturais da sociedade impiedosa.A esperança é uma virtude complexa,em sua sustentação e defesa.Depende da consciência de estar no mundo e descobrir a solidão humana ante a imensidão do Universo.Um mundo marcado pelo fatalismo,pela resignação à injustiça e ao naturalismo dos determinismos resistentes às transformações.
Não faltará quem nos diga,enquanto representantes da autoridade espiritual que nos cerca:” sempre foi assim” , e o “deus deles” faz parte das forças que esmagam as pessoas,um impedimento aos planos mais altos de bem-estar social,à vida plena e à dignidade humana.
Não é aceitável que privilegiados,para quem não é mais utopia os sonhos de bem-estar pelo desenvolvimento da técnica – locupletados de recursos,na saúde,na medicina,na educação,no domínio da natureza,no lazer –, lembrem-se apenas dos símbolos do consumismo reunidos no Natal dos ricos e dos bem-postos.A natalidade do Messias de Deus é a resposta do Evangelho deste domingo de Advento.O concreto da vida humana,as tendências dos homens e mulheres,caminhando em esperanças e transformações,aponta as carências e possibilidades reais latentes na vida de fé.Em nossas comunidades,preparamo-nos para comemorar uma data de grande importância para a nossa fé: Natalidade do Senhor,ponto culminante do Advento.O reinado de Deus está na pauta da segunda vinda,inclusive.Uma paisagem bíblica familiar é-nos apresentada.Ele manteve a esperança de seu povo,esmagado pelos impérios poderosos do Oriente,enquanto povo e sociedade,envergonhados de seus próprios pecados.O profeta apresentou imagens belíssimas de salvação.Por exemplo,falando de uma milagrosa primavera no Líbano,a grande cordilheira ao norte da Palestina,da qual de extraíam madeiras preciosas e pedras necessárias para as construções (Isaías 35,1-10).
(Continua na próxima folha de culto)
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